Enquanto um breve treino de meditação pode afectar o processamento de estímulos afetivos, permitindo que as as emoções não sejam mais esmagadoras, praticantes de longo prazo também têm mudanças na estrutura do cérebro e nas reacções à dor [1].
Num estudo que utilizou a ressonância magnética estrutural (MRI), com scanners magnéticos em 17 praticantes de meditação Zen, em comparação com 18 sujeitos de controlo, submetidos a estímulos de calor capazes de evocar dor moderada, a prática da meditação a longo prazo foi associada com a redução da sensibilidade à dor e a uma maior espessura cortical nas regiões do cérebro relacionadas com a dor, incluindo o córtex cingulado anterior e ínsula anterior [2].
Numa comparação de meditadores avançados e novatos, houve uma redução significativa no desagrado auto-relatado, mas não na intensidade da dor, o que sugere que a consciência não julgadora pode mitigar os efeitos negativos da experiência sensorial da dor [3]. Um estudo dos efeitos analgésicos dos estados ‘mindful’ (atenção plena) em 13 meditadores Zen experientes sugeriu que a modulação da dor pode ser explicada, em parte, pelas mudanças nos ritmos respiratórios [3].
Estados electrofisiológicos observados em meditadores avançados contra meditadores novatos correspondem aos estados que parecem ser únicos. Tais padrões alterados de EEG fornecem evidências adicionais para o conceito de plasticidade neuronal [5]. Enquanto que os estudos de EEG na prática da meditação Zen encontraram um aumento da actividade alfa e teta, geralmente relacionadas ao relaxamento em certas regiões do cérebro, incluindo o córtex frontal. A actividade teta foi associada com um maior grau de experiência em meditação [6]. No entanto, mesmo um breve curso de 4 sessões de meditação mindfulness foi suficiente para aumentar a capacidade de sustentar a atenção, por melhorar o processamento visual-espacial, trabalhando a memória e o funcionamento executivo [7].
Estudos de neuroimagem evidenciaram correlatos neurobiológicos da meditação, com destaque para as regiões do cérebro que regulam o controlo da atenção e do afecto - um dos principais objectivos da instrução e da prática da meditação [8].
Tais estudos sugerem que a prática da meditação Vipassana está associada com a activação do córtex pré-frontal e cingulado anterior, bem como com o aumento da espessura em áreas corticais relacionadas com a atenção e aumento da matéria cinzenta subcortical no hipocampo e na ínsula direita em meditadores de longa data [10].
A partir de um estudo, que analisou a forma como a meditação afecta os parâmetros do sistema cardiovascular, baseado principalmente na avaliação das formas de onda de pressão sanguínea, inferiu-se que a meditação Zen podem melhorar as características do sistema [11]. Da mesma forma, mudanças no fluxo sanguíneo cerebral têm sido observadas durante cânticos meditativos [12].
Foi também proposto que a meditação mindfulness pode ter efeitos protectores no comprimento dos telómeros (protecção nas extremidades dos cromossomas) e, portanto, sobre o envelhecimento celular, por contrariar os estados crónicos de excitação provocado pelo stress.
Segundo este modelo, a meditação mindfulness altera as avaliações cognitivas de "ameaça" para "desafio", aumentando assim os estados mentais positivos e os factores hormonais que parecem promover a manutenção dos telómeros [13].
Conclusão
A meditação começa a ser amplamente aceite como uma técnica mente-corpo para manter a saúde holística e bem-estar. Na medicina, a meditação tem provado ser uma terapia adjuvante segura e eficaz para o tratamento de uma variedade de condições, nos efeitos psicológicos da doença crónica e nos efeitos da dor, muitas vezes ineficaz nos tratamentos convencionais. As evidências que sugerem que a meditação tem propriedades neuroprotetoras têm implicações para melhorar a cognição e a prevenção da demência [14].
Referências bibligráficas
1. Grant JA, Courtemanche J, Duerden EG, et al. Cortical thickness and pain sensitivity in Zen meditators. Emotion 2010;10:43–53.
2. Perlman DM, Salomons TV, Davidson RJ, Lutz A. Differential effects on pain intensity and unpleasantness of two meditation practices. Emotion 2010;10:65–71.
3. Grant JA, Rainville P. Pain sensitivity and analgesic effects of mindful states in Zen meditators: A cross-sectional study. Psychosom Med 2009;71:106–114.
4. Zeidan F, Gordon NS, Merchant J, Goolkasian P. The effects of brief mindfulness training on experimentally induced pain. J Pain 2010;11:199–209.
5. Fell J, Axmacher N, Haupt S. From alpha to gamma: Electrophysiological correlates of meditation-related states of consciousness. Med Hypotheses 2010;March 11:e-pub ahead of print.
6. Chiesa A. Zen meditation: An integration of current evidence. J Altern Complement Med 2009;15:585–592.
7. Zeidan F, Johnson SK, Diamond BJ, et al. Mindfulness meditation improves cognition: Evidence of brief mental training. Conscious Cogn 2010;19:597–605.
8. Rubia K. The neurobiology of meditation and its clinical effectiveness in psychiatric disorders. Biol Psychol 2009;82:1–11.
9. Mayo KR. Support from neurobiology for spiritual techniques for anxiety: A brief review. J Health Care Chaplain 2009;16:53–57.
10. Chiesa A. Vipassana meditation: A systematic review of current evidence. J Altern Complement Med 2010;16:37–46.
11. Liu CY, Wei CC, Lo PC. Variation analysis of sphygmogram to assess cardiovascular system under meditation. Evid Based Complement Alternat Med 2009;6:107-112.
12. Khalsa DS, Amen D, Hanks C, et al. Cerebral blood flow changes during chanting meditation. Nucl Med Commun 2009;30:956–961.
13. Epel E, Daubenmier J, Moskowitz JT. Can mindfulness slow rate of cellular aging? Cognitive stress, mindfulness, and telomeres. Ann N Y Acad Sci 2009;1172:34–53.
14. Xiong GL, Doraiswamy PM. Does meditation enhance cognition and brain plasticity? Ann N Y Acad Sci 2009;1172:63–69.