Desde os anos 70 do século passado, a meditação e outras técnicas de redução de stresse têm sido estudadas como possíveis tratamentos para a depressão e ansiedade. Uma dessas práticas, o Yoga, tem recebido menos atenção na literatura médica, embora se tenha tornado cada vez mais popular nas últimas décadas. Uma pesquisa nacional estimou, que cerca de 7,5% dos adultos dos EUA já praticou yoga pelo menos uma vez e que cerca de 4% tinham praticado yoga no ano anterior.
As aulas de yoga podem variar de suaves e confotáveis a árduas e desafiadoras. A escolha do estilo tende a basear-se na capacidade física e preferência pessoal. O Hatha yoga, o tipo mais comum de yoga praticado nos Estados Unidos, combina três elementos: poses físicas, chamada asanas, respiração controlada praticado em conjunto com os asanas e um curto período de profundo relaxamento ou meditação.
Muitos dos estudos que avaliam os benefícios terapêuticos do Yoga têm sido com amostras pequenas e com algumas falhas metodológicas . No entanto, uma análise de 2004 concluiu que, nas últimas décadas, um número crescente de ensaios clínicos aleatórios foram realizados. Revisões disponíveis de uma ampla gama de práticas de yoga sugerem que elas podem reduzir o impacto das respostas ao stresse exagerado e podem ser úteis tanto para ansiedade como para a depressão.
Domar a resposta ao stresse
O yoga parece modular os sistemas de resposta ao stresse ao reduzir o stresse e ansiedade percebidos. Isto, por sua vez, diminui a excitação fisiológica - por exemplo, a redução da taxa cardíaca, redução da pressão sanguínea, facilitando a respiração. Há também evidências de que as práticas de yoga ajudam a aumentar a variabilidade da frequência cardíaca, um indicador da capacidade do organismo para responder ao stresse de forma mais flexível.
Um estudo pequeno, mas intrigante, caracteriza ainda mais o efeito do yoga na resposta ao stresse. Em 2008, investigadores da Universidade de Utah, apresentaram resultados preliminares de um estudo das respostas dos participantes à dor. Eles notaram que as pessoas que têm uma resposta mal regulada ao stresse também são mais sensíveis à dor. Os participantes do estudo foram 12 praticantes experientes de yoga, 14 pessoas com fibromialgia (condição que muitos experts consideram estar relacionada com o stresse, que é caracterizada por hipersensibilidade à dor) e 16 voluntários saudáveis.
Quando os elementos dos três grupos foram submetidos a mais ou menos pressão dolorosa nos polegares, os participantes com fibromialgia - como esperado – sintaram mais dor em níveis de pressão mais baixa em comparação com os outras participantes. Exames de ressonância magnética mostraram que também tiveram a maior actividade em áreas do cérebro associadas com a resposta à dor. Em contraste, os praticantes de yoga tiveram a maior tolerância à dor e menor actividade do cérebro relacionada com dor durante a ressonância magnética. O estudo ressalta o valor de técnicas, tais como yoga, que podem ajudar uma pessoa a regular o seu stresse e, portanto, as respostas de dor.
Melhoria do humor e do funcionamento geral
Várias questões permanecem em aberto sobre exactamente como o yoga funciona para melhorar o humor, mas a evidência preliminar sugere que o seu benefício é semelhante ao das técnicas e exercícios de relaxamento.
Em um estudo alemão publicado em 2005, 24 mulheres que se descreveram como "emocionalmente perturbadas" tiveram duas aulas de yoga de 90 minutos por semana durante três meses. As mulheres do grupo de controlo mantiveram as suas actividades normais e foram orientadas a não iniciar um programa de redução de stresse durante o período de estudo. Apesar de não serem formalmente diagnosticadas com depressão, todas as participantes tinham experimentado sofrimento emocional pelo menos em metade dos 90 dias anteriores. Elas também exibiram um desvio padrão acima da média da população em resultados de stresse percebido, ansiedade e depressão. Ao fim de três meses, as mulheres no grupo de yoga relataram melhorias no stresse, na depressão, na ansiedade, na energia, na fadiga e no bem-estar. Os valores de depressão melhoraram em 50%, os valores de ansiedade em 30% e pontuações de bem-estar geral em 65%. Queixas iniciais de dores de cabeça, dores nas costas e má qualidade do sono também foram resolvidas com muito mais frequência no grupo de yoga do que no grupo de controlo.
Outro estudo, menos rigoroso e descritivo, em 2005, examinou os efeitos de uma única aula de yoga em pacientes internados num hospital psiquiátrico de New Hampshire. Nos 113 participantes foram incluídos pacientes com transtorno bipolar, depressão e esquizofrenia. Após a aula, os níveis médios de tensão, ansiedade, depressão, raiva, hostilidade e fadiga caíram significativamente, medidos por um questionário antes e depois da aula. Os pacientes que optaram por participar em aulas adicionais experimentaram efeitos positivos similares de curto prazo.
Mais estudos controlados da prática de yoga têm demonstrado melhorias no humor e na qualidade de vida nos idosos, nas pessoas que cuidam de pacientes com demência, nas sobreviventes de cancro de mama e nos pacientes com epilepsia.
Um tipo de respiração controlada, com raízes em programas de yoga tradicional promete alívio para a depressão
O programa, chamado Sudarshan Kriya Yoga (SKY), envolve vários tipos de padrões de respiração cíclica, variando de lento e calmante para o rápido e estimulante (o que é típico na prática de yoga). Um estudo comparou 30 minutos de respiração SKY, feito seis dias por semana, com a terapia eletroconvulsiva bilateral e com um antidepressivo tricíclico, a imipramina, em 45 pessoas hospitalizadas por depressão. Depois de quatro semanas de tratamento, 93% dos que receberam a terapia de eletrochoque, 73% dos que tomaram a imipramina, e 67% daqueles que usam a técnica de respiração tinha conseguido a remissão.
Outro estudo examinou os efeitos da respiração SKY nos sintomas depressivos em 60 homens dependentes de álcool. Depois de uma semana de um programa de desintoxicação típico num centro de saúde mental em Bangalore, na Índia, os participantes foram divididos, aleatoriamente, para realizarem duas semanas de respiração SKY ou um procedimento padrão de tratamento do alcoolismo. Após as três semanas completas, as pontuações do inventário de depressão caíram 75% no grupo SKY, em comparação com 60% no grupo de tratamento padrão. Níveis de duas hormonas do stresse: cortisol e corticotropina, também desceram no grupo SKY, mas não no grupo de controlo. Os autores sugerem que arespiração SKY pode ser um tratamento benéfico para a depressão nas fases iniciais de recuperação do alcoolismo.
Ajuda potencial para TSPT
Uma vez que as evidências sugerem que o yoga pode diminuir a excitação desadaptativa do sistema nervoso, os investigadores estão a explorar, também, se ser uma prática útil para pacientes com transtorno de stresse pós-traumático (TSPT).
Um estudo controlado aleatório analisou os efeitos do yoga e um programa de respiração em veteranos Australianos diagnosticados com TSPT grave. Os veteranos ingeriam grandes quantidades de alcool diariamente e todos estavam a tomar pelo menos um antidepressivo. O curso de cinco dias incluiu técnicas de respiração (ver acima), asanas de yoga, educação sobre a redução do stresse e meditação guiada. Os participantes foram avaliados no início do estudo, utilizando a Escala que classificou a gravidade dos sintomas numa escala de 80 pontos.
Seis semanas depois do início do estudo o grupo de yoga e respiração obteve níveis médios de 57 (sintomas moderados a graves) a 42 (leve a moderada). Estas melhorias persistiram num prazo de seis meses de follow-up. O grupo de controlo, composto por veteranos numa lista de espera, não apresentaram melhorias.
De acordo com uma estimativa, cerca de 20% dos veteranos de guerra que serviram no Afeganistão ou no Iraque sofrem de TSPT. Especialistas que tratam esta população sugerem que o yoga pode ser uma adição útil para o programa de tratamento.
Investigadores do Centro Médico do Exército Walter Reed, em Washington, estão a oferecer um método de yoga de relaxamento profundo para veteranos que combateram no Iraque e no Afeganistão e planeia realizar estudos controlados da sua eficácia no futuro.
Bibliografia
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